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Smiley face

Sue Vertue: Produtora de Sherlock fala sobre o Episódio Piloto e viver com Steven Moffat


Sue Vertue fora das sombras de Sherlock


Entrevista feita por Thomas Destouches em 15 de Fevereiro de 2012, em Paris.

O original em francês pode ser lido AQUI

Às vezes rola uma imagem, uma caricatura, do produtor fumando um cigarro, com todo seu dinheiro...

...e [ele precisa dele] pra comer (risos)!

É! Mas é claro que não é assim...Pra você, no seu papel como produtora, qual o "momento" mais gratificante?

Quando eu entrego o que vendi para o emissor. Por exemplo, quando eu assisto a BBC e digo a eles: Essa é a série que eu queria fazer, eu tenho que assegurar que será a série que eles irão transmitir. Para Sherlock, nós precisamos construir o visual do personagem, encontrar o diretor apropriado, o tom da série, reunir um elenco e o dinheiro para alcançarmos o que tínhamos em mente.

Para Sherlock, você fez dois episódios e algo não funcionou muito bem e...

Na verdade foi um único episódio piloto.

Um piloto que permaneceu engavetado. Em seguida vocês fizeram o primeiro episódio da primeira temporada, certo?

Totalmente.

Qual era o "problema" do piloto?

Não era uma questão de ter ou não um problema.


O piloto [disponível na versão inglesa do DVD da primeira temporada e na versão brasileira somente em Blu-Ray - veja aqui] é bom mas é diferente do primeiro episódio, e não só em termos de duração. Pulamos de 52 para 90 minutos.

Eu acho que é um piloto muito bom. A primeira temporada originalmente consistia em seis episódios de 52 minutos, não 3 de 90. Refletimos com a BBC e concluímos que queríamos fazer Sherlock ainda mais impressionante, e fomos pela opção de fazer no formato de 90 minutos. Wallander [que estreou sua terceira temporada esse ano na Inglaterra] que também é da BBC, é feita nesse formato e funciona bem. Então nós concluímos logicamente que nós queríamos, entre outras coisas, criar um evento dessa magnitude. Esse formato permite que você adicione um pouco mais de polpa e consistência. Nós fizemos testes no piloto. Não sou exatamente fã desse procedimento, mas nos permitiu revelar outros pontos de discórdia. No final das contas, se provou ser muito útil. Nos permitiu checar a química entre os dois personagens principais e corrigir o tom das cenas envolvendo a polícia, que o público em geral achou muito estúpida quando assistiu pela primeira vez. Sim, eles estavam estúpidos, incluindo Lestrade, o que não deveria ser o caso. Ele não é um policial ruim, Sherlock que é simplesmente brilhante. Esse passo permitiu que Steven e Mark Gatiss percebessem o problema e arrumassem. Entre o piloto e o primeiro episódio, houveram algumas mudanças técnicas, especialmente nas câmeras usadas.

As cenas do primeiro encontro entre Sherlock e Watson também foram levemente mudadas. O set é o mesmo mas o visual é diferente e também o ritmo do diálogo..

Sim, totalmente. Também mudamos de diretor, que filmou o terceiro episódio [Paul McGuigan; O Grande Jogo] antes de pegar o primeiro, que Steven ainda estava reescrevendo. Filmar nessa ordem também enriqueceu o primeiro episódio. Por exemplo, a troca de mensagens de texto que são mostradas na tela dinamicamente [foram concebidas por Paul].

E esse método funcionou muito bem...

Extremamente bem. Tanto que quando Steven viu o resultado na tela, ele incorporou a ideia ao roteiro do primeiro episódio.


O que você viu em Benedict Cumberbatch que te fez pensar "Esse é nosso Sherlock"?

Enquanto eu ainda não tinha lido o que Steven estava preparando, perguntei a ele que tipo de ator ele estava procurando pro papel. Ele mencionou um fisicamente alto, de rosto angular, nariz grande...e Benedict Cumberbatch não tem um nariz nada grande! (risos) Ele me deu uma descrição precisa mas vaga, e então nós conhecemos Benedict [que Mark Gatiss já conhecia e havia indicado para o papel]! Ele é bonito e ao mesmo tempo tem algo de estranho, incomum. Tem uma estranheza nos olhos dele. Pelo nosso encontro, sabíamos que seria ele. 

Os dois atores principais, Benedict Cumberbatch e Martin Freeman, são muito famosos hoje em dia e continuam fazendo filmes. Sherlock contribuiu imensamente para o sucesso deles. Você deve se sentir orgulhosa. Mas também deve complicar seu trabalho...

Sim, eles são muito ocupados! Mas mesmo que uma pessoa esteja muito ocupada, se elas quiserem participar de um projeto, sempre encontrarão tempo. E nosso trabalho é garantir que isso pode ser feito. Eu lembro na época de Coupling [série criada por Steven Moffat e produzida por Sue Vertue], nós tínhamos seis atores principais! Reunir todos eles era complicado...mas nós conseguimos lidar com isso porque todo mundo queria fazer. Ainda mais na Inglaterra, o sistema de contrato é bem diferente de outros ligares como os EUA, onde se tem um ator contratado por X anos.


Falando em Coupling, há um remake americano. Você trabalhou com os produtores desse remake? Participou do desenvolvimento?

Não. Tentamos nos envolver mas...(silêncio)


Você conhece a série Episodes? É sobre roteiristas ingleses que voam para Hollywood fiscalizar a adaptação da série deles. É uma experiência parecida?

Eu gosto dessa série! (risos) E sim, é parecido. Steven e eu achamos essa comédia bem engraçada e vemos aqui e ali algumas coisinhas da época da adaptação de Coupling. Pode-se dizer que não é uma experiência muito feliz.


Você produz todas as séries de Steven Moffat...

Não todas! Sou casada com ele, como você sabe...

Sim, claro! Então, você produz "algumas" séries. Que tipo de escritor ele é? É difícil trabalhar com o show-runner Moffat?

É mais difícil se ele trabalhar nos finais de semana (risos)! Nessas situações eu encaro duas perguntas: "Você vai trabalhar o final de semana inteiro?" e "Onde está o roteiro que eu te pedi?".E se eu começar a ler o que ele me dá, eu preciso me assegurar de não estar perto dele e até mesmo assegurar que ele não estará do meu lado, senão ele fica me olhando e perguntando toda hora "por que você não riu nessa página?" (risos) Se você não vive com um escritor, não pode imaginar como realmente é. Eu lembro que antigamente eu ficava no telefone com escritores me dizendo "Estou quase acabando" e não podia fazer nada a não ser duvidar ou relaxar...Eu sei quando está mesmo pronto. E sei as causas e implicações. Mas quando um roteiro de Steven Moffat chega na sua mesa, está pronto pra ser filmado. Normalmente os escritores fazem primeiro um rascunho, que precisa ser refinado e re-trabalhado, com páginas e páginas de anotações. A versão que Steven me entrega geralmente está pronta pra ser filmada.

Você colocou muito de si mesma em Coupling, você é casada com um escritor que você produz...Não é um pouco estranho às vezes, ter sua vida pessoal relacionada a sua vida profissional?

É verdade que nossa vida social é ocupada em parte pelas nossas vidas profissionais. Mas você pode ver de maneira diferente: quando um marido chega em casa dizendo que teve um dia ruim, uma outra esposa não faz ideia do que isso significa. Eu penso em exemplos de amigas que talvez não entendam exatamente, ou mesmo em detalhes, o que seus maridos fazem todos os dias. E esse detalhes são importantes. Pessoalmente, eu sei exatamente porque Steven está tendo um dia ruim, e onde e o que isso significa! (risos) Mas a vantagem do nosso casamento é que cada um ama profundamente o que faz e nos respeitamos em nossos trabalhos. 

Você foi a primeira a oferecer a Steven Moffat a oportunidade de trabalhar em Doctor Who. Foi em um episódio especial para o "Comic Relief" [a versão inglesa do Teleton], chamado "Doctor Who e a Maldição da Morte Fatal". Naquela época, a série não estava mais no ar e a nova versão ainda estava em desenvolvimento. Podia ter sido o primeiro E último episódio de Doctor Who!

Foi estranho porque Doctor Who estava há 10 anos fora do ar quando nós fizemos o episódio. Pra constar, minha mãe era a agente de Terry Nation [escritor da primeira série de Doctor Who, criador dos "Daleks"] e quando nós desenvolvemos o episódio, foi muito complicado obter os Daleks e a permissão para usá-los. Então eu me voltei para alguém que eu conhecia bem, minha mãe, para contar [a Terry] meus problemas! (risos) Foi difícil e divertido ao mesmo tempo, fazer esse episódio. Ao mesmo tempo que Doctor Who não estava de volta à moda ainda e eu sabia que ninguém estava mesmo convencido de que Steven pudesse fazer um bom trabalho com o personagem.


Unna Stubbs, Steven Moffat, Beryl Vertue, Stephen Thompson, Louise Brealey, Ian Hallard, Mark Gatiss, Sue Vertue, Andrew Scott e Lara Pulver

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