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Smiley face


Todos os textos são reproduções e adaptações dos textos assinados por integrantes do coletivo The Baker Street Babes, em uma série de posts chamada Femme Friday (Mulher de Sexta, em tradução livre). Para ler a versão completa e ainda conhecer outras personagens do cânone de Sherlock Holmes, clique aqui.



Sally Donovan

Interpretada por Vinette Robinson, Sally "oferece uma janela para o próprio Sherlock"

Sally serve como um apanhado de vários personagens do cânone de Holmes. Várias histórias diferentes trazem antagonistas menores, como policiais desconfiados e outros que não gostam dos métodos de Sherlock e nem acreditam no seu brilhantismo. Às vezes o Inspetor Lestrade é um deles. Os criadores de Sherlock escolheram focar em um lado diferente de Lestrade, o lado mais compreensivo e paternal que o leva a ser um aliado de Sherlock e até agir como se fossem amigos, às vezes. Como resultado, ficou uma área em aberto que quase sempre está preenchida nas histórias de Conan Doyle, o papel da pessoa irritante que deveria estar do lado de Sherlock mas escolhe ficar contra. Em vez de inventar uma série de personagens esquecíveis para essa posição, a equipe de Sherlock preferiu criar Sally, uma personagem recorrente com uma história não explicada de antagonismo contra Sherlock e um apetite insaciável pada insultá-lo. Sally pode não ser uma personagem popular, mas ela é uma atualização forte e crível do conceito do cânone.


Sally oferece uma janela para o próprio Sherlock através das reações que provoca nele. A resposta de Sherlock para a maioria das pessoas é dispensá-las sem nem pensar muito. Entretanto, no caso de Sally, ele tem um comportamento verdadeiramente antagônico ao dela. O comportamento dele pode ser interpretado de várias maneiras, mas algumas de suas reações parecem ser resultado de uma dor genuína. A maneira como Sally trata Sherlock é uma extensão do desagrado que que o acompanhou durante toda a sua vida. No lugar de ignorar friamente seu antagonismo, Sherlock parece sentir a necessidade de se defender, provando que ele é capaz de se magoar. Sem Sally, essa dimensão da humanidade de Sherlock seria menos aparente.



Sra. Hudson

"Sra Hudson deixar Baker Street? A Inglaterra desmoronaria!"

Esta citação do S2E1 "Um Escândalo na Belgrávia" dá uma amostra sobre uma das personagens mais importantes nas histórias e adaptações de Sherlock Holmes. Sra Hudson é de longe, a mulher mais paciente, resiliente, organizada e corajosa no Cânone, e enquanto a gente frequentemente se pergunta como John Watson consegue conviver com Sherlock Holmes (sem matá-lo ou pelo menos planejar seu assassinato de vez em quando), eu me faço mais essa pergunta sobre a Sra. Hudson. No conto "O Detetive Moribundo", Watson a descreve como uma sofredora de longa data que adora Sherlock Holmes e nenhuma vez interferiu em seu trabalho por puro respeito, não importando o quão insano parecesse. Irene Adler pode ser A Mulher para Sherlock Holmes, mas Sra Hudson é a Super-mulher.

Sherlock Holmes e John Watson precisam dela de várias maneiras. Você deve ter notado que apesar de seus protestos, ela é tanto a proprietária quanto governanta de Sherlock e John na série da BBC. Nas histórias e em muitas adaptações, ela não é apenas isso, mas também a cozinheira, enfermeira, "mãe" e a mais proeminente crítica de Sherlock.

A Sra Hudson de Una Stubbs é especial com certeza. Nunca tivemos uma Sra Hudson que tivesse sido alcoólatra, fumado maconha e dançarina exótica, escondedora de celulares no sutiã antes e ainda não conhecemos alguém que não a adorasse. Nós a amamos, porque apesar de todos os problemas que Sherlock causa, e apesar do seu comportamento frequentemente ofensivo (lembre daquela situação no início do S2E2 "Os Cães de Baskerville"), ela ama os meninos e age como se fosse suas mães. O que faz sentido, visto que na série da BBC John e Sherlock são retratados ainda jovens, enquanto ela já é uma senhora. Uma das cenas mais fofas com a Sra. Hudson na série é quando Mycroft fala para ela calar a boca e John e Sherlock ficam simplesmente escandalizados. Sherlock irá defendê-la até a morte (ainda que ele próprio tomará pra si o privilégio de gritar com a proprietária de seu apartamento de vez em quando).

Sra Hudson se mete em perigo quando um dos agentes da CIA invade o 221B à procura do celular de Irene Adler no S2E1 "Um Escândalo na Belgrávia" e o que ela faz? Hudso não tem medo de nenhuma CIA. Olha só ela escondendo o celular no sutiã. Senhoras e senhores, Sra Hudson: a fodona de Baker Street.



Molly Hopper

No início do S1E1 "Um Estudo em Rosa", Molly Hooper é introduzida como um contraste e um amplificador da personalidade de Sherlock. Seu comportamento abrupto, quase alienígena enquanto chicoteia um cadáver e sua incapacidade de notar qualquer sinal de socialização é agudamente contrastado pelas leves tentativas de Molly fazer humor e seus tímido flerte. Ela imediatamente dá ao espectador a janela para as diferenças do detetive para o resto do mundo -- um mundo onde as tentativas de uma mulher para impressionar um homem com um batom seriam apreciadas na melhor hipótese e ignoradas na pior. No mundo de Sherlock, entretanto, os fatos vêm primeiro, mesmo se vierem através do tamanho da boca de uma mulher. Ao mesmo tempo, Molly demonstra ser mais perseverante que o esperado, já que ão desiste de Sherlock.

Em S1E2 "O Baqueiro Cego", Molly novamente amplifica o personagem de Sherlock, desta vez ajudando a mostrar que ele não é sempre assim tão distraído socialmente e não está acima de comprar relacionamentos para conseguir o que quer. Seu flerte ofensivo com ela na fala da cafeteria não apenas funciona de maneira geral ao conseguir sua atenção e lisonjeá-la (uma espécie de investimento na relação para o futuro), mas também leva imediatamente ao corpo que ele precisa checar para completar a investigação.

Através das duas primeiras temporadas, a personagem cresce enormemente. A revelação da verdadeira importância de Mollyna segunda temporada, certamente foi de encontro e extrapolou os maiores desejos dos fãs. Anteriormente, a humilhação de Molly na festa de Natal em S2E1 "Um Escândalo na Belgrávia" revelou um inesperado lado arrependido, até mesmo doce, de Holmes. Mais tarde, a percepção de Molly sobre o estado mental de Sherlock ("Você parece triste quando pensa que ele não está te vendo") o ajuda a entender o valor dela. No final, quando até Watson precisa ser mantido no escuro, Holmes procura por ela por ajuda.

Na terceira temporada, Molly se transforma em uma aliada formidável para Sherlock e uma mulher que se dá conta de sua própria força ao ponto de repreendê-lo por seu abuso de drogas. E também, através de janelas no palácio mental de Sherlock, ela parece ser uma parte permanente dos processos mentais dele, tendo ele um respeito tão grande por ela que ela representa todo o conhecimento médico para ele.

Os criadores de Sherlock preferiram amenizar o hábito de fumar de seu herói e deixar de lado quase completamente seu uso de drogas. Molly é essencial ao programa porque ela destaca tudo que torna Sherlock tão imperfeito -- sua frequente falta de entendimento das pessoas ou do que é importante pra elas. As coisas que ela amplifica nele faz dele um reflexo não apenas da fonte original de Conan Doyle, mas também um gênero misterioso como um todo, em um mundo em tons de cinza com de heróis cheios de falha. E ainda assim, há algo um pouco diferente em Molly Hooper, um pouquinho independente, um pouco indisposta a desistir, algo nela que acaba surpreendendo até mesmo Sherlock Holmes.



Mary Morstan

O que é dito sobre Mary Watson, ex Morstan, no cânone de Sherlock Holmes? O suficiente para nos covencer de que ela deve ter sido uma mulher extraordinária. John "Três Continentes" Watson andava bem saidinho, como vimos no romance "O Signo dos Quatro". Daí vem a Mary com algumas pérolas e um mistério, e antes que você consiga pensar, John Watson se apaixona. Nas histórias, ele diz que ela não era bonita. Ele não a objetifica.

E o que Sherlock Holmes, pensa de Mary com seu cérebro-masculino superior e seus poderes de dedução?

"Você é certamente uma cliente modelo. Você tem a intuição certa."

"Acho que ela é uma das jovens mais encantadoras que eu já conheci e seria muito útil no tipo de trabalho que nós fazemos. Sem dúvida ela tem a personalidade pra isso."

Queremos que todo mundo faça um exercício de pensamento e conte quantas vezes Sherlock Holmes, que adora John Watson, alguma vez que o próprio John Watson tem a personalidade certa para qualquer coisa. Que pena ela ter sido relegada ao banco de trás na maioria das adaptações.

Agora falemos sobre a Mary da BBC. Porque ela é fodona, quase o tipo de personagem universalmente ideal para a televisão. No programa "Sherlock Uncovered: As Mulheres", disponível na Netflix Brasil, Benedict Cumberbatch comenta o quanto Sherlock não se sente ameaçado por Mary: eles fazem amizade logo que se conhecem, e permanecem sendo bastante amigos. A Mary de Sherlock não chega tentando se infiltrar na relação deles, tirar John de Baker Street ou exigir atenção: pelo contrário, ela tenta mantê-los unidos resolvendo casos, como se nada tivesse mudado com sua chegada. Na realidade, em seu próprio casamento, quando Sherlock finalmente entende que está havendo uma tentativa de assassinato, Mary sai com eles para ajudar a resolver o caso.

Talvez a Mary da série tenha muito pouco a ver com a canônica. E nós ainda nem a conhecemos direito, enquanto ela ainda não mostrou muito do seu novo eu, de ex-assassina. Provavelmente os roteiristas escreverão novos fatos para toda a situação criada na terceira temporada e Amanda Abbington continuará a dar conta do recado brilhantemente na quarta temporada.


Irene Adler

Sherlock Holmes é um ninja e boxeador e charmoso e um gênio e um artista, e nós o adoramos, mas ele precisa ser colocado em seu lugar de vez em quando. No primeiro conto em que Holmes aparece (anteriormente só aparecera em romances), ele recebe uma rasteira por uma mulher de calças. E não nos esqueçamos que essa história foi escrita por um homem branco colonialista -- Sir Arthur Conan Doyle era um cavalheiro e acadêmico e advogava pela lei do divórcio, sem dúvida. Mas dificilmente ele era um revolucionário, e ainda assim, decidiu que no primeiro conto de seu protagonista ele seria ludibriado por uma mulher de uma profissão questionável detentora de sua própria autonomia.

Por que isso é ótimo e o que tiramos de Irene Adler? Primeiro, Irene Adler existe inteiramente e completamente separada de Holmes e Watson, uma mulher capaz de superá-los. Quando ela vence, nós entendemos que Holmes faz apostas de vez em quando, assume riscos e perde, e isso permite que aconteça uma tensão narrativa mesmo que os dons de Holmes sejam quase sobre-humanos.

Segundo, diferente de muitos personagens que representam tanto um Problema a Ser Resolvido ou uma Vítima a Ser Salva ou uma Ameaça a Ser Neutralizada, Adler simplesmente tem planos que não coincidem com os do grande detetive ou o bom doutor. Ela não é uma ameaça a eles e também não é útil a eles. Ela é uma pessoa. Adler simplesmente está tentado viver sua vida do seu jeito e leva um advogado bonitão para a cama se estiver com vontade, e a melhor coisa disso é que Doyle praticamente diz ISSO AÍ e deixa ela se safar com...

...um assassinato?

E aqui temos um ponto interessante: a Irene Adler do cânone é uma mulher livre no melhor estilo Lady Gaga e ela é escolhida como antagonista, mas ela não faz nada além de manter uma fotografia que pertence a ela e...se traveste? É interessante que as versões modernas tenham escolhido fazer de Adler uma cúmplice de Moriarty ou o próprio Moriarty. E nós precisamos questionar porque nos dias de hoje Irene precisa ser uma vilã pra existir na narrativa.

Então ainda que a gente ame todas as facetas de Irene Adler, sua determinação e seu charme, não vamos nos esquecer de levantar a bola certa: A Mulher é aquela que provou que você não precisa ser nem vilã nem donzela para ganhar o dia.

Sobre a Irene Adler de Sherlock, a nossa opinião e nossos comentários sobre as críticas, leia os textos: A Irene Adler de Moffat e A Versão Moderna de Irene Adler: rebatendo as críticas.


2 comentários:

  1. Não sei por que as pessoas odeiam tanto a Molly, sério! Principalmente as fãs de Johnlock (no caso eu, uma delas), já que a Molly nunca chegou a ridicularizar o John nem nada. Na verdade, acho que a partir da terceira temporada vejo que ela entende que Sherlock não vai ficar com ela. Ela passa a entender que tudo o que ele a fez passar não era charme, era um abuso diario. A Molly é um personagem criado para que seja mostrado que o Sherlock não é um personagem perfeito. Isso é mostrado varias vezes durante a série, principalmente quando ela está contracenando com ele!

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  2. branco, colonialista, doyle? argh.

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