T4E1: As Seis Thatchers – Resenha com spoilers do primeiro episódio da quarta temporada
Fonte:
Sherlockology
Tradução: Júlia Silveira
Traição.
Esse é o tema comum que liga tudo o que acontece em Sherlock T4E1, As Seis Thatchers.
Mary é acusada de trair seus antigos colegas e um dos sobreviventes
de uma missão arruinada quer vingança.
Fica implícito que John, surpreendentemente, trai seus votos de
casamento com Mary.
E Sherlock trai o seu último voto (His Last Vow/Seu último juramento), sua irresistível
arrogância em analisar a criminosa acaba incitando a mulher,
aparentemente frágil, a cometer assassinato, levando à morte de
Mary e a uma verdadeira quebra de sua amizade com John Watson.
Esse final, é claro, é um gigantesco tema para debate. Na estreia
de The Six Thachers em dezembro Steven Moffat e Mark Gatiss comentaram
que uma eventual morte de Mary era esperada em diversos lugares,
então eles pensaram em surpreender o espectador tirando-a do caminho
no primeiro episódio. É uma decisão corajosa, dando ao episódio
um gosto de final de série e conferindo à série uma sensação de
perigo como nunca houve.
Apesar desse tom sombrio, a parte inicial do episódio é carregada
de uma maravilhosa comédia e transforma-se em um thriller de ação
impressionante. É um sabor de Sherlock que nunca apareceu totalmente
nesse nível, a combinação da cena estonteante de luta na piscina e
o passeio internacional que culmina no Marrocos, fazendo da série
quase um Bond/Bourne completo.
Isso marca também a leve indulgência da terceira temporada – tudo
que acontece em cena aqui está à serviço da trama, ao contrário
da diversão boba no tour pelos bares na despedida de solteiro em The
Sing of Three. The Six Tachers não tem reviravoltas de suprema
inteligência, tudo é cuidadosamente medido e explicado em um nível
satisfatório. Mas essa ainda não é uma história autônoma de
Sherlock como nas duas primeiras temporadas – esse formato, sem
dúvida, parte de The Reichenbach Fall. A familiaridade com os
episódios anteriores é agora essencial para acompanhar o que está
acontecendo e sentir todo o peso da tragédia que inevitavelmente se
desenrola.
A incapacidade de Sherlock de resistir a uma “boa” dedução é
apenas outro elemento que liga os três personagens e se torna muito
clara ao longo do episódio. Só resta à Mary drogar Sherlock e
fugir quando o perigo surge, assim como John aparentemente não
consegue resistir a uma mulher atraente (na estreia, Mark Gatiss
chamou atenção para a reputação canônica de Watson como
mulherengo, apesar da ofensa que isso pode representar para alguns de
nós hoje em dia). Eles finalmente não conseguem resistir ao lado
mais sombrio de suas próprias naturezas, mesmo que todos tenham sido
feitos para estar ao lado dos anjos.
Benedict Cumberbatch continua sua evolução de Sherlock Holmes. Os
vislumbres entorpecidos de Readbeard e de um chapéu de pirata podem
humaniza-lo ainda mais, mas a revelação de que ele é o único em
terapia com Ella Thompson (um breve retorno de Tanya Moodie) no final
reforça o fato de que ele não é o mesmo homem que conhecemos em A
Study in Pink. Seu caráter ficou mais suave e seus velhos hábitos
são vistos como letalmente negativos. O caso que Mary dá a ele nos
minutos finais é claramente algo que ele não sabe como resolver já
que é construído em torno de um núcleo de verdadeira compreensão
da emoção humana. É um caminho para o crescimento que se coloca
diante dele.
Martin Freeman continua sendo a revelação, mas, como John Watson,
desafia diretamente nossa simpatia como público. Fica claro que ele
é humano na medida em que é incapaz de resistir à tentação. Não
é dito se ele quebrou ou não seus votos de casamento com Mary – o
fato dele querer admitir algo para ela antes da viagem trágica ao
Aquário de Londres sugere um pesado “provavelmente”. É algo que
vai dividir o público, com certeza. O que não se pode contestar é
a reação de John durante a cena da morte de Mary, um chocante
lamento primitivo e animalesco que vai além de qualquer reação que
ele teve durante toda a série. É outro momento memorável para o
personagem que o torna a alma humana da série, até mesmo diante do
que seu treinamento básico como médico do exército lhe custou.
Vamos, então, para Amanda Abbington como Mary. É justo dizer que a
mera presença do personagem já dividiu os fãs, mas não há nada o
que censurar em seu sacrifício altruísta para salvar Sherlock
diante da sua própria arrogância. O fato dela pedir desculpas por
atirar nele em His Last Vow foi um belo toque e seus momentos finais
foram profundamente comoventes. Antes de tudo isso, no entanto, com
seus truques e interações calorosas, a durona espiã internacional
trouxe uma reviravolta na série como um todo. Nós sentiremos muito
a sua falta.
Entre o elenco de apoio, ainda há a deliciosa pretensão de Mycroft;
a briga dos irmãos na primeira cena e a maior aparição do MI6 (ou
quem quer que eles REALMENTE sejam), fazendo com que sua presença
continue sendo um prazer. A adição de novos policiais de apoio no
enredo não prejudica Lestrade – é um belo toque para finalmente
retomar a ideia de que outros membros do Met também consultam
Sherlock e não apenas ele. E Rupert Graves continua tendo um bom
material para atuar com o jeito confuso que é sua marca. Louise
Brealey está pouco representada neste episódio como Molly, mas no
encerramento ainda consegue dar o tom do dano trazido para a amizade
de Sherlock e John. E Una Stubbs é a senhora Hudson. E é só isso
que pedimos (e o delicioso fato de que ela estava fora em Corfu em um
determinado momento foi um belo bônus).
Além disso, para melhorar, há a apresentação de Toby, um Cão de
Santo Humberto, incluindo um momento escrito por Moffat e Gatiss na
rua, no dia da filmagem, porque o cão aparentemente não gostava de
andar.
Como mencionamos anteriormente na nossa resenha sem spoilers, a
direção de Rachel Talalay é uma infusão de sangue novo para a
série. Sherlock nunca teve tanta ação e é uma surpreendente
reviravolta dos acontecimentos. A devastadora briga na piscina entre
Holmes e AJ sai diretamente da era Craig de James Bond ou de qualquer
um dos filmes Bourne, enquanto as batalhas furiosas com armas durante
a crise dos reféns são habilidosas e cheias de energia. O fato de
que tudo isso acontece em um episódio que começa com as cenas
cômicas e animadas do nascimento e do batismo repleto de tweets é a
cereja do bolo, uma verdadeira demonstração de como a série
prospera por ter diretores experientes no comando.
Nós também não poderíamos deixar de elogiar o brilho da produção
de Arwel Jones, principalmente a nova imagem do crânio nas já
familiares paredes do apartamento 221B e a criação dos ambientes
internos na sequência no Marrocos. São coisas espetaculares que nos
fazem acreditar que estamos sendo levados para fora de Londres,
enquanto o uso das locações na série continua sendo brilhante.
Para alguns fãs é muito provável que o Aquário de Londres se
torne um novo lugar de peregrinação, tendo em vista o seu uso
espetacular nesse episódio, a bela luz e os tubarões de verdade
circulando, que dão ao episódio uma estranha característica, que -
é impossível não sentir - está caminhando para os reinos da
metáfora.
Para onde a série vai nos levar agora se este foi apenas o episódio
de abertura? Temos medo de pensar...
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Downloads e opções para assistir online legendado estão na postagem fixada deste grupo: aqui
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Entrevista: Steven Moffat explica o final: aqui
Boa resenha.
ResponderExcluirIndo na contramão de quem achou um eppy não a altura dos anteriores de "Sherlock", eu absolutamente amei.
A deliciosa verborragia de Sherlock, a arrogância, o humor e principalmente as cenas externas.
Primeiria visita aqui, blog caprichadissimo. Parabéns !
Agradecemos a visita e o comentário! Esperamos que retorne :)
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