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Smiley face

Um estudo em "Sherlock": referências do cânone em "Um Estudo em Rosa"


Texto traduzido diretamente de Oh someting arty por nossa colaboradora Liiz Buarque. 

Muitos de vocês já assistiram há algum tempo, viram mais vezes, e talvez apreciaram mais do que eu. Certamente não posso fingir apresentar a série para vocês, mas eu posso aprofundar seu gosto por ela.
Então isso aconteceu quando eu passei grande parte do verão passado lendo a  "Coleção completa de Sherlock Holmes". Ainda está fresco na minha mente quando eu assisti "A study in pink", o primeiro episódio da nova versão. Eu reconheci muitos detalhes maravilhosos, nomes, lugares e diálogos transpostos palavra por palavra dos originais de Arthur Conan Doyle.

Eu pensei que já que alguns de vocês não são familiarizados com as histórias originais, vai ser divertido dividir algumas coisas paralelas que eu identifiquei. A lista completa seria demasiado longa -há tantos achados- mas vocês terão noção de coisas da cena em que Sherlock "lê" Watson.

Aqui vamos nós:

[Nota: Eu vou usar quotes do primeiro episódio "A study in pink" assim como do começo dos dos primeiros romances de Holmes "Um estudo em vermelho" e "O signo dos quatro". Se  vocês não gosta de ler trechos de coisas que você não viu ou ainda não leu então a hora de ir embora é agora]

Nos dois romances, "Um estudo em vermelho" e no episódio "A Study in pink", Watson é apresentado a Holmes por um amigo em comum que soube que os dois estavam procurando por uma pessoa para dividir um apartamento. O amigo traz Watson ao "laboratório químico  no hospital"/idem, onde Holmes está desenvolvendo um trabalho. E aqui está sua primeira conversa:

Conan Doyle:
"Como vai você?" - ele disse cordialmente, apertando minha mão com uma força de que não o teria julgado capaz. - "Esteve no Afeganistão, pelo que percebo"
"Como é que sabe disso?"-  perguntei espantado
"Não importa" - disse ele, rindo consigo mesmo.

Moffat:
Sherlock: Afeganistão ou Iraque?
John: Perdão?
Sherlock: Qual dos dois:  Afeganistão ou Iraque?
John: (depois de uma longa pausa) Afeganistão. Desculpe, como você sab...
Sherlock: (interrompendo John) Ah, Molly, café, obrigado.

O próximo encontro com nossos heróis, no capítulo 2, "A Ciência da Dedução"/o dia seguinte, Watson teve a chance de ler alguns dos escritos de Holmes. É um artigo de jornal chamado "O Livro da Vida"/o website de John é chamado "A Ciência da Dedução(soa familiar?), e Watson é cético sobre os poderes que Holmes diz que tem. Watson desafia Holmes, que o lembra de sua dedução sobre o Afeganistão:

Conan Doyle:

"Você pareceu surpreso quando eu falei que eu sabia que você veio do Afeganistão.
"Alguém lhe contou, sem dúvida"
"Nada disso. Eu sabia que você chegara do Afeganistão. Devido ao longo hábito, a cadeia de pensamentos passou tão rápidamente pela minha cabeça que cheguei à conclusão sem ter consciência das etapas intermediárias. Mas essas etapas ocorreram. A cadeia de pensamentos foi a seguinte: "Aí está um cavalheiro do tipo médico, mas com ar militar. Portanto, é obviamente um médico do exército. Acaba de chegar dos trópicos, porque seu rosto é escuro, mas esse não é o matiz de sua pele, pois seus pulsos são claros. Passou por dificuldades e doenças, como a face desfigurada revela claramente. Seu braço esquerdo foi ferido. Você o mantém numa posição rígida e pouco natural. Em que lugar dos trópicos um médico do exército inglês podia ter sofrido tantas privações e ser ferido no braço? Claro que no Afeganistão". Toda essa cadeia de pensamentos não levou nem um segundo. Eu então observei que você tinha vindo do Afeganistão, e você ficou espantado."
Moffat:
Sherlock: Quando eu o vi pela primeira vez, ontem, eu disse: "Afeganistão ou Iraque?"  Você pareceu surpreso.
John: Sim, como você sabia?
Sherlock: Eu não sabia, eu vi. Seu corte de cabelo, o jeito com o qual você se porta, expressam militarismo. O discurso quando você entrou na sala -disse que você estudou em Bart's, então médico do exército. Óbvio. Seu rosto é bronzeado mas não há bronze acima dos pulsos - você foi esteve no exterior mas não para um bando de sol. Você manca ao andar mas não pediu uma cadeira, ficou de pé como se não tivesse nada, então o mancar é parte psicológico. Ou seja, as circunstâncias da lesão foram traumáticas. Ferido em ação. Ferido em ação e bronzeado: Afeganistão ou Iraque."

A Ciência da Dedução, mostrando-se! Como acontece , no segundo romance de Sherlock Holmes, "O signo dos quatro", abre um capítulo também chamado de "A Ciência da Dedução" e Moffat aproveitou-se bastante disso.

Esse capítulo é onde Watson vê Holmes usando cocaína*/usando três adesivos de nicotina, o qual Holmes chama de "transcendentemente estimulante e esclarecedora para a mente"/ ajuda a pensar"No original, Watson decide colocar essa habilidade em teste e entrega a Holmes um relógio de bolso, dizendo: "Agora, eu tenho aqui um relógio recém adquirido. Você faria a gentileza de me dar sua opinião sobre o caráter ou os hábitos do último proprietário?" Na adaptação de Moffat, Sherlock pede emprestado o celular de John quando eles se encontram pela primeira vez no laboratório.

Holmes examina o relógio/celular e eventualmente declara,

Conan Doyle:
Eu deveria dizer que o relógio pertenceu ao seu irmão mais velho, que o herdou de seu pai. [...] Ele era um homem desleixado - muito desleixado e descuidado. Ele fora deixado com boas perspectivas, mas jogou fora suas chances; viveu algum tempo na pobreza, com curtos intervalos ocasionais de prosperidade, e, finalmente, entregando-se à bebida, ele morreu, isso é tudo que eu posso deduzir."

Moffat:
Sherlock: Eu sei que você tem um irmão que se preocupa com você mas você não irá pedir ajuda por que não o aprova, possivelmente, porque ele é alcóolatra..... mais provavelmente porque ele recentemente separou-se da mulher [...]

E aqui, como Holmes explica suas deduções em cada versão. Eu irei inverter aqui e começar com a versão de Moffat, mostrando as fontes em cada linha. (Weeee, essa parte em bem divertida)

Moffat:
Sherlock: Seu celular - é caro, recebe emails, toca MP3. Mas você está procurando alguém para dividir apartamento, você não gastaria dinheiro em um desses. É um presente, então. Arranhões - não um, mas muitos deles. Esteve no mesmo bolso com chaves e moedas. O homem que senta ao meu lado não iria tratar um item de luxo assim, então ele já teve um dono antes.

Conan Doyle:
"Eu começo afirmando que seu irmão era descuidado. Ao observar a parte debaixo do relógio, nota-se que ele não só está amassado em dois pontos, mas está todo marcado devido ao hábito de manter outros objetos duros, tais como moedas e chaves, no mesmo bolso. Certamente não é um grande feito presumir que um homem que trata um relógio de cinquenta guinéus de tal forma cavalheiresca seja um homem descuidado. Tampouco se trata de uma difícil dedução que um homem que herda um artigo de tal valor estejasuficientemente bem-provido em outros aspectos.
Moffat:
Sherlock: A próxima é um pouco fácil, você já sabe.(a imagem se aproxima na parte de trás do telefone, na qual se encontra gravado "Harry Watson - from Clara xxx".)
John: A gravação?
Sherlock: Harry Watson - claramente um membro da família que lhe deu seu velho telefone. Não seu pai - isso é coisa de gente jovem. Poderia ser um primo, mas você é um herói de guerra que não consegue encontrar um lugar pra morar. Improvável você ter uma família grande, certamente não é próximo de ninguém, então logo chegamos ao ao seu irmão.

Conan Doyle:
"Eu deveria dizer que o relógio pertenceu ao seu irmão mais velho, que o herdou de seu pai."
"Que você deduz, sem dúvida, por H. W. na parte de trás do relógio?"
"Realmente. O W. sugere seu próprio nome. A data do relógio é de 50 anos atrás, e as iniciais são tão antigas quanto o próprio relógio: portanto ele foi feito pela geração passada. Joias normalmente são passadas para o filho mais velho, e o mais provável, é que ele tenha o mesmo nome do pai. O seu pai, se bem me lembro, morreu há muitos anos. Portanto, o relógio esteve nas mãos de seu irmão mais velho."
Moffat:
Sherlock: Agora, Clara - quem é Clara? Três beijos indicam envolvimento romântico. Telefone caro indica esposa, não namorada. Deve ter dado a ele recentemente - esse modelo tem apenas seis meses de lançamento. Problemas no casamento, então - seis meses e ele já está se desfazendo do telefone? Se ela o tivesse deixado ele, provavelmente guardaria o telefone como recordação. As pessoas fazem isso, sentimento. Mas não, ele quis se livrar - então ele a deixou. Ele te deu o telefone, o que diz que ele quer que você permaneça em contato. Você está procurando por uma acomodação em conta mas não pede ajuda ao seu irmão? Isso indica que você teve problemas com ele. Talvez você gostasse de sua esposa, talvez não gostasse de sua bebedeira"
Conan Doyle:
"Ele era um homem desleixado - muito desleixado e descuidado. Ele fora deixado com boas perspectivas, mas jogou fora suas chances; viveu algum tempo na pobreza, com curtos intervalos ocasionais de prosperidade, e, finalmente, entregando-se à bebida, ele morreu, isso é tudo que eu posso deduzir."
Aqui Watson surta um pouco; no original, ele pula de sua cadeira e acusa Holmes de pesquisar sobre sua vida. Na adaptação, ele apenas diz, "Como você poderia saber sobre a bebida?"
O detalhe que Sherlock oferece como explicação é, eu acho, minha parte paralela favorita em todo o episódio:

Moffat:
Sherlock: Conector do carregador - pequenos arranhões ao redor. À noite, ao carregá-lo as mãos tremem e arranham. Não se vê isso no celular de um cara sóbrio e nunca se vê o celular de um bêbado sem.

Conan Doyle:
"Eu peço que olhe para a tampa interna onde fica o buraco para a chave. Observe os milhares de arranhões em volta - marcas de onde a chave escorregou. Qual chave de um homem sóbrio poderia ter feito essas ranhuras? Mas você nunca verá o relógio de um bêbado sem elas. Ele lhe dá corda à noite e deixa essas marcas da sua mão vacilante."

Eu quase caí da cadeira. Que substituição brilhante - carregador do telefone por chave de corda de um relógio de bolso.

E, deliciosamente, o episódio inteiro é assim. Acredite em mim quando eu digo que a partir do início do show -

Conan Doyle:
(Stamford, o amigo em comum:) "[Holmes] aparenta ter paixão por conhecimento exato e definitivo.
(Watson:)"Certamente"
"Sim, mas pode ser excessiva. Quando implica bater com uma vara nos cadáveres da sala de dissecação, essa paixão está certamente tomando uma forma um tanto bizarra."
"Batendo nos cadáveres!"
"Sim, para verificar até quando é possível fazer feridas depois da morte. Eu o vi com meus próprios olhos."

Moffat:
*WHAP!* *WHAP!* WHAP!*
- para nos bater do meio-
Conan Doyle:
(Holmes:) "Eu anseio a exaltação mental. É por isso que eu escolhi uma profissão própria, ou melhor, a inventei, porque sou o único no mundo."
"O único detetive não oficial?" Eu disse, levantando minhas sobrancelhas.
"O único detetive consultor não oficial", ele respondeu. "Eu sou o último e mais nobre tribunal de  apelação na detecção. Quando Gregson, ou Lestrade, ou Athelney Jones estão perdidos - o que, por acaso, é o estado normal deles - o assunto é apresentado a mim"

Moffat:
Sherlock: Eu sou um detetive consultor. Único no mundo. Eu inventei a profissão.
John: O que isso quer dizer?
Sherlock: Que quando a polícia não sabe o que fazer - ou seja, sempre- eles vem até mim.
-até o final-

Conan Doyle:
Watson:  "Mas não foi um mero palpite?"
Holmes: "Não, não; eu nunca dou palpites. Trata-se de um hábito chocante - destrutivo para o raciocínio lógico"

Moffat:
John: Palpite de sorte.
Sherlock: Eu nunca dou palpites.

-A série está recheada com falas, cenas e situações dos livros. Para ver mais em português, clique aqui.

É uma façanha maravilhosa  por parte de Moffat ter criado uma adaptação ao mesmo tempo tão contemporânea quanto fiel aos  textos originais.  Se você gosta da série então confira as histórias originais ou assista a série se você gosta dos livros; cada qual enriquecerá seu gosto pelo outro.

Quer mais? Acompanhe "Um estudo em Sherlock - "O Banqueiro cego"


*O uso da cocaína era liberado em 1890, ano no qual "O signo dos quatro" foi publicado no mês de Fevereiro na Lippincott's Monthly Magazine, pela primeira vez,  em forma de folhetim. Sendo logo em seguida editado na forma de livro.

Um comentário:

  1. Realmente, a adaptação da serie Sherlock da BBC é fantástica!! Já revi duas vezes a série, tentanto, encontrar semelhanças com os livros. Claro que fizeram algumas modificações, como no episodio da Irene Adler, mas, no fim, acho a serie inglesa sensacional!

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