
Gatiss e Moffat falam sobre o que esperar de A Noiva Abominável
Como surgiu a
decisão de levar Sherlock de volta a Era Vitoriana?
Mark Gatiss:
A gente meio que brincou com essa ideia por um bom tempo, mas a ideia
parecia tentadora se levarmos em conta que somente Rathbone e Bruce
tinham feito isso anteriormente, levando a série do passado para os
dias atuais. Só que estamos fazendo no sentido inverso. Mas digamos
que a ideia de ver Ben e Martin e todos o elenco na era de Doyle era
simplesmente irresistível.
Steven Moffat:
Sue estava nos dando as opções: 'O que você faria desse especial?
Se mais três episódios viessem a seguir, você poderia fazer alguma
coisa com um especial?'
MG: Foi
realmente pragmático. Se tivéssemos espaço para fazer um, se seria
o primeiro episódio dos outros três e então faríamos os outros
dois 12 meses depois, seria um tanto estranho, por isso o episódio
meio que foi moldado a partir disso.
SM: Nós não
estaríamos fazendo isso, a menos que fosse um episódio isolado.
MG: Da última
vez nós fizemos uma temporada, gravamos os dois primeiros episódios
juntos, então tivemos uma lacuna antes de filmarmos o terceiro,
então isso meio que se tornou um padrão a ser seguido. Não temos
como gravar três episódios de uma vez.
SM: Tudo
começou com a gente imaginando se conseguiríamos encontrar uma boa
justificativa para colocá-los vestidos naqueles trajes por 10
minutos em algum episódio. Daí a gente pensou: quer saber? Vamos
levar isso a sério! Vamos fazer um episódio inteiro na Era
Vitoriana e não apenas uma pequena cena dentro de algum episódio
como tínhamos pensado anteriormente
Se desde o início
vocês tivessem ambientado a série à Era Vitoriana, teria sido esse
o resultado?
MG: Sim.
Porque seria exatamente esta a razão de fazê-la, para dar um toque
mais moderno à obra. Douglas [Mackinnon], o diretor disse algo muito
interessante um dia desses, um figurante entrava em cena segurando
uma carta e se movia de maneira mais lenta e ele disse "olhe,
ele está se movendo lentamente como nos velhos tempos!" e há
uma espécie de percepção nisso. Se você assistir a filmagens
antigas, as ruas de Londres eram mais tumultuadas do que são agora.
O tráfego era caótico. Uma metrópole caótica e tumultuada. Em uma
das conversas que tivemos logo no início sobre a casa em que eles
morariam era que ela deveria ser vitoriana, porque as pessoas ainda
moram nelas, estas casas podem até ter sido modificadas em seu
entorno, mas as bases continuam sendo as mesmas, assim como acontece
nas histórias.
Houve resistência
a ideia de ambientar a série a Era Vitoriana?
SM: Um pouco.
MG: Nós
tivemos que conversar com a BBC, não foi?
SM: E Sue
[Vertue, produtora]. A reação tanto de Sue quanto de Ben foi "Aaah
...', porque ambos estávam um tanto quanto preocupados que nós dois
nos empolgássemos muito com a ideia e não desse muito certo. Então
a gente teve que deixar claro que não seria nenhuma paródia ou algo
do tipo, que não seria apenas colocar o elenco em trajes vitorianos
e falar "Olha eles em trajes de época! Não é engraçado? Olha
que legal, costeletas!"
Não faremos isso.
Estamos sim um episódio muito bom ambientado na Era Vitoriana. Vai
ser realmente muito bom. Nosso objetivo é que com dez, quinze
minutos de episódio você vai simplesmente esquecer de que mudamomos
a época em que o episódio se passa e irá simplesmente curtir a uma
boa história de Sherlock.
MG: Tínhamos
tempo para gravar o especial e todo o elenco estava disponível. Nós
chegamos a cogitar a possibilidade de fazer três histórias, sendo
que uma se passaria no século XIX, mas daí pensamos: Como assim! O
que que a gente tá pensando? Essa é uma grande oportunidade!
Ainda mais levando
em consideração que o nosso outro grande marco é o filme de Billy
Wilder, A Vida Íntima de Sherlock Holmes, que é muito mais uma
comédia moderna vestida com roupas vitorianas. Era algo que a gente
deveria fazer.
Já existia a
ideia de testar a série num período diferente ao que ela é
ambientada?
Steven Moffat:
Pra ser sincero, foi mais pela diversão. Diversão para nós e
para o público. Levando em consideração de que Benedict e Martin
são (e não estou me auto promovendo ao dizer isso) o Holmes e o
Watson da geração deles, seria absurdo não aproveitar a chance de
vê-los dando vida aos personagens na época em que as histórias
realmente acontecem.
MG: Mas
estávamos certos de que aquela ainda era a nossa série. Ainda se
trata do nosso Sherlock, como sempre o fizemos só que em outro
período, não fizemos nenhuma mudança drástica.
SM: Sim, não
é um pastiche de outros Sherlocks vitorianos, a nossa versão ainda
está lá.
MG: Nós
sabíamos que não queríamos apenas fazer uma espécie de sketch no
estilo Comic Relief. Tem todo o peso e a estrutura de um bom
mistério. É um puro-sangue gótico vitoriano.
E vocês tinham
esse interesse em fazer uma versão vitoriana por anos
MG: Não.
Isso implica que tínhamos secretamente, à contragosto, tornado a
série moderna só para que pudéssemos, no futuro, fazer um episódio
desse. E isso meio que aconteceu de uma forma especial.
SM: A série
teria que ser tão grande quanto é agora para que fizéssemos algo
tão louco quanto o que estamos fazendo. Você realmente tem que
esperar até o ponto onde (como eu disse anteriormente, Ben e Martin
são a Holmes e Watson de suas épocas) você possa dizer 'E agora,
que tal vermos eles usando deerstalker e chapéu coco'?
Poderão vir
outros depois desse ou será único?
MG: [Brincando]
Faremos um em 1944 em preto e branco ...
SM: Onde ele
luta contra os nazistas! [Risos] Incluindo um discurso de Churchill!
MG: E ao lado
os dizeres "Neste cinema você pode ajudar os nossos soldados
através de financiamento*!' *War Bonds
Sherlock Holmes
poderá ser retratado como um sociopata mordaz em um ambiente tão
formal e educado como o da Grã-Bretanha Vitoriana?
SM: Mas é
exatamente assim no original. Ele é horrível. Principalmente nas
primeiras histórias, nos episódios modernos, ele age exatamente
como agia na época vitoriana. E, nos caso dos diálogos,
particularmente, não é assim tão diferente. Na primeira temporada,
nós fizemos diversos aprimoramentos no estilo de discurso de
Sherlock, daí nós meio que percebemos, quando nos aproximamos da
segunda temporada, que a forma como Ben fala faria todo o sentido se
ele começasse a falar como um Sherlock Vitoriano , por isso acabamos
voltando a um estilo de fala bem mais vitoriano.
MG: O que
ocorre é que o personagem é notoriamente muito bom com as mulheres,
ele pode ser muito charmoso, mas, como se diz nas histórias
originais, ele é muito bruto e rude. No primeiro encontro dele com
Watson, este fala: "Este senhor pode ser muito inteligente, mas
certamente é muito arrogante." e é tudo a mesma coisa,
independente de época.
SM: Eu fiquei
chocado na primeira vez em que li as histórias e eu as li desde o
início e lembro de ter ficado um tanto incomodado, eu o achava uma
pessoa horrível. Eu imaginava Sherlock como uma pessoa legal,
afinal, eu já imaginava o personagem antes mesmo de iniciar a
leitura. E, meu Deus, como ele era cruel! Ele é cruel o tempo todo
com todo mundo. Gradualmente, duas coisas acontecem: a medida que
você vai lendo as histórias, você vai se acostumando e, assim como
acontece com a nossa versão, não é que ele melhore ou fique mais
simpático, ele simplesmente passa a se comunicar melhor com as
pessoas, porque ele passa a morar e ter contato direto com uma.
Nesse episódio
especial, a evolução emocional sofrida pelo personagem ao longo
dessas três temporadas, volta a estaca zero?
MG: Existem
certos elementos que você pode agregar a era vitoriana melhor do que
na época moderna, mas isso não significa que estamos voltando a uma
situação pré primeira temporada.
O quão diferente é
esse episódio vitoriano em relação à série dos dias de hoje?
SM: Eles não
são tão diferentes assim
MG: É o
mesmo show, apenas com alguns lances de pirotecnia que se adequam ao
período.
SM: É
basicamente a mesma série. Ela não vai, de uma hora pra outra, se
transformar em um filme com Basil Rathbone ou um episódio com Jeremy
Brett.
Qual foi a parte que vocês mais gostaram em escrever Sherlock na Era Vitoriana:
MG: Sem
entrar muito na trama do episódio, há essa cena adorável que meio
que está presente em várias histórias da série, uma situação em que
eles estão parados no escuro, no meio do nada e as badaladas do
relógio começam a soar e Watson diz "Essa é a noite mais
longa da minha vida", como em "A Faixa Malhada", e
você se dá conta de que sempre quis fazer uma dessas cenas, e nós
provavelmente poderíamos ter feito na versão moderna, mas tem um
quê diferente.
SM: É
provavelmente uma das minhas cenas favoritas, porque enquanto
eles estão lá parados conversando, Dr. Watson faz a pergunta que eu
sempre quis que ele fizesse.
MG: Você vai
ter que esperar para ver!
SM: É melhor
não ficar muito animado! E isso funcionou tão bem nesse contexto,
quanto teria funcionado na versão moderna. É a mesma conversa.
Muitas das coisas que vocês irão ver irão fazer vocês perceberem
que se trata da mesma série. É o mesmo seriado, ainda que todos os
detalhes que você esteja vendo sejam diferentes. Que é exatamente o
mesmo truque que fizemos há alguns anos com "Um Estudo em
Rosa". Nós olhamos e dissemos 'Isso ainda é Sherlock Holmes,
não é?' Mesmo que tenhamos mudado tudo, ainda é!
A noiva
abominável vai ao ar dia 1º de janeiro de 2016
Vocês vão postar o especial legendado para assistor online?
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