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Entrevista completa: Steven Moffat e Mark Gatiss desmentem a Teoria da Conspiração Johnlock (TJLC)


O texto abaixo faz um resumo da controvérsia gerada no fandom de Sherlock depois das últimas declarações de Moffat e Gatiss. Se quiser pular direto para a tradução da entrevista, ela começa após a imagem de Steven.

O fim de semana da Comic-Con de San Diego 2016 foi agitado e, durante o evento, o co-criador, roteirista e produtor da série Steven Moffat deu algumas declarações que causaram rebuliço no fandom de Sherlock. Como a maioria dos painéis não foi transmitida via streaming, as pessoas tiverem que acompanhar através do live-tweeting de perfis generosos e, dessa forma, algumas informações chegaram desencontradas ou fora de contexto, fazendo com que as pessoas tirassem suas próprias conclusões. A mais controversa foi sobre representatividade e homossexualidade, o que se transformou em uma suposta confirmação de um relacionamento amoroso entre Sherlock e John (o ship Johnlock).

Vamos recapitular o que aconteceu: conversando com Bryan Fuller, Steven Moffat falou duas coisas: sobre como ele e Gatiss haviam "enlouquecido" e concretizado "um desejo insano" (deles, não do fandom) e falou também sobre a importância de se tratar a homossexualidade de personagens de maneira delicada e devagar. O fandom interpretou essas informações como uma pista "óbvia" de que Moffat se referia a Sherlock e que isso significaria que Johnlock era canon e ia acontecer. A informação correta não era essa, de forma que em outro painel, Steven Moffat e Mark Gatiss sentiram a necessidade de esclarecer a situação e afirmaram categoricamente que não vai acontecer, porque não é essa a história que eles estão escrevendo, embora o fandom possa fazer suas própria interpretação. A gente noticiou tudo isso em um texto que gerou controvérsias (leia aqui).

Gerou controvérsias porque algumas pessoas entenderam que o que o Moffat falou era o desejo da nossa página (?), como se não devêssemos acreditar nele e manter a versão de que ele - e Gatiss - estão "sempre mentindo". É verdade, sempre que pretendem despistar fãs e jornalistas para trazer alguma surpresa e não estragar seus projetos, eles mentem e Moffat não teve pudor nenhum em admitir isso neste outro painel aqui (e em outras ocasiões). Teoricamente, isso poderia significar que, na verdade, eles estão fazendo a mesma coisa agora (*piscadinha*), mas isso seria incoerente e injustificado, se analisarmos todo o contexto: por que Moffat iria querer "dar pistas" em um dia e no outro dizer as coisas que ele diz (e você pode ler na íntegra abaixo) com tanta veemência? Notem que a fala de ambos não é algo evasivo, que se presta a responder uma pergunta e seguir em frente: é uma declaração que se pretende definitiva sobre o assunto, ainda mais depois de Gatiss ter tweetado o seguinte hoje:

"A entrevista é real, foi conduzida durante a ComicCon e está inteiramente correta. Obrigado."

A questão aqui não é ser contra relacionamentos homossexuais, homossexualidade (ou bissexualidade) de personagens ou ser contra ship Johnlock ou qualquer outro. Essas são questões que não fazem a menor diferença quando os responsáveis pela série dão esse tipo de declaração: não importa qual o seu ship, não importa o que você pensa sobre representatividade homossexual, nada disso vai mudar a cabeça deles e fazer com que escrevam uma série sob medida para caber no que a gente quer assistir.

Em 2014, nós publicamos um texto da roteirista Petra Leão (com introdução nossa) que rebatia ponto a ponto todas as críticas feitas ao ship Johnlock (e vocês podem relembrar aqui). Naquela época, essa era uma questão interna do fandom, entre quem era, digamos, purista e quem defendia o subtexto homossexual da série. Hoje, a coisa saiu do controle a ponto de haver uma teoria da conspiração (e essa definição já é suficientemente autoexplicativa) rebatendo o que os próprios criadores da série escrevem e escreveram (!!!). Ou seja, uma parte do fandom não apenas interessada em shippar seu casal favorito através de fanfics e fanarts, mas frequentemente se colocando contra os próprios responsáveis pela série (e por qualquer um que acredite neles ou que não esteja interessado em saber se vai haver ou não relacionamento amoroso, inclusive com agressões em comentários na nossa página).

O fato é que você pode achar que a série é sobre um casal se descobrindo. Pode achar que é sobre um detetive brilhante evoluindo como pessoa. Pode achar que é sobre casos estranhos sendo desvendados por esse detetive. Pode achar o que quiser. O que não é razoável é brigar com quem pensa diferente - inclusive quem criou tudo isso, pra começo de conversa. Esse era o mesmo argumento que há anos atrás a gente usava contra as pessoas que ofendiam o fandom Johnlocker e agora usamos para a parcela deste fandom que faz o mesmo com quem não liga para o ship. (E não se enganem, na nossa equipe temos três Johnlockers).

Dito isso, fica por conta de cada um acreditar ou não naquilo que achar mais sensato. Se é verdade que nem toda informação deve ser engolida passivamente, também não é recomendado desconfiar de tudo: as expectativas ficam elevadas e isso pode gerar ou uma decepção, no pior dos casos, ou uma falta de surpresa, em uma projeção mais otimista. De qualquer forma, está por sua conta e risco.

Foto: ComicCon 2015

Vamos aos fatos. Esta entrevista foi traduzida diretamente da With An Accent, que cobriu a ComicCon. A versão completa em inglês você pode checar aqui.

"Moffat participou de um painel com Bryan Fuller e Michael Green, discutindo o tema da representatividade - especificamente, a representatividade gay - na mídia, particularmente na ficção científica e na televisão popular. Alguns comentários foram interpretados pelo fandom como a confirmação de que um certo ship não só iria definitivamente acontecer na série, e que Moffat tinha mesmo confirmado que o casal iria se beijar no final da temporada 4. Na verdade, os fãs estavam se parabenizando por estarem certos o tempo todo. Parecia uma grande extrapolação, e Moffat também achou.

"Posso dizer que sim, muito [sobre a extrapolação]. O que é irritante é que eu estava falando de um assunto bem sério, uma questão séria, que foi respondida com seriedade tanto por mim quanto por Bryan fuller, que conseguiu responder muito mais rápido que eu. Eu estava falando sobre a representatividade das minorias nas séries de ficção científica e na cultura pop. Usando o exemplo do tratamento dado aos personagens gays e como você deve apresentá-los. Na verdade, eu estava pensando majoritariamente em Doctor Who, porque Doctor Who se dirige a crianças. E eu estava dizendo sobre como você deve lidar com personagens gays em ficções como Doctor Who quando você está falando diretamente com crianças. Você não quer ser panfletário. Você não quer ser agressivo. Você não quer dizer para as crianças que isso é algo a virar motivo de campanha. Você quer dizer que [ser gay] é absolutamente normal e está tudo bem. Não há uma pergunta a ser respondida. Você quer passar direto pelo passado, de certa forma. Você não quer... assim como fazem outros tipos de literatura ou filmes, dizer 'a gente te perdoa por ser gay'. Você só quer dizer que você é gay e isso não importa. Não é um problema.

Era disso que eu estava falando. Não estava falando, eu especificamente não estava mesmo falando sobre...Sinceramente, o que dá raiva é estar falando sobre um assunto sério e aí o Twitter sair falando por aí 'oh, isso significa que Sherlock é gay'. É bem explícito que não significa. Pegaram um assunto sério e trivializaram além da conta."

Sobre como Sherlock [o personagem] termina, ele falou "Sherlock Holmes termina criando abelhas no Sussex Downs. Isso foi definido há 90 anos."


Nesse momento Gatiss interveio, "Vale a pena dizer - porque nós nunca temos a oportunidade de dizer. Toda a noção, a ideia de eles possivelmente serem um casal gay é inspirada pela piada no filme "A vida íntima de Sherlock Holmes", do Billy Wilder, nossa versão favorita. E nós achamos que seria uma boa ideia usar isso. No século 21, isso não seria uma questão. As pessoas só presumiriam. Talvez a gente tenha repetido [essa piada] muitas vezes, não sei. Mas isso é tudo. Ele diz explicitamente que não está interessado. Não significa que ele não poderia ficar. Não significa que há algo errado com isso. Eu sou um homem gay. Isso não é um problema. Mas nós dissemos explicitamente que não vai acontecer - não há nenhum jogo sendo planejado, não importa o quanto a gente minta sobre outras coisas, pra esse programa terminar com Martin e Benedict rumando ao pôr-do-sol juntos. Eles não irão fazer isso. E se as pessoas quiserem escrever o que elas estiverem a fim e se divertirem extrapolando, está tudo bem. Mas não há nenhuma agenda sendo escondida nem exposta. Não estamos tentando brincar com a cabeça das pessoas. Nem tentando insultar nem tentar fazer disso nenhum tipo de questão, não há nada ali. É só o nosso programa e é desse jeito que os personagens são. Se as pessoas quiserem fazer [o ship] nos websites, é absolutamente tranquilo. Mas não há nada ali."

"E não coloque coisas na nossa boca", completou [a produtora] Sue Vertue.

"Não, completamente" continuou Gatiss. "Não culpe a gente por coisas que não estão lá. Isso foi enfurecedor. Ficam criticando a gente pesadamente por essas coisas como se nosso programa - nem terminamos o décimo terceiro [episódio] ainda - tivesse que sustentar cada causa e cada campanha. Não dá pra fazer isso. É a nossa série, esses são nossos personagens, eles fazem o que querem e nós não temos que representar todas as coisas em noventa minutos. É impossível. E mataria [o programa]. Seria mortal."

Moffat concluiu, "E eu ainda acho que, no meu caso, eu estava falando sobre representatividade, assim como Bryan, de uma forma bem séria. O que eles [o fandom] fizeram foi baixar o tom da conversa pra algo extremamente bobo. E isso não está ajudando ninguém. Eu me importo muito com o que eu disse naquele painel. Eu estava falando sério. E não gosto que isso seja reinterpretado como se fosse outra coisa. [Nós] não estamos dizendo a ninguém o que eles devem pensar. Mark não está dizendo que outras pessoas não podem escrever uma versão em que John e Sherlock fiquem juntos. Mas nós não estamos. Não estamos engajados em alguma teoria da conspiração espertinha para escrever algo por baixo dos panos, nós só estamos escrevendo o programa que estamos escrevendo."

Então eu esclareci a conversa: "Essa não é a história que vocês estão contando".

"Sim, é isso", Moffat respondeu. "Mas eles podem. Eles podem. Uma vez que a gente entrega o programa a eles, pertence a eles e nosso trabalho foi feito. Eles podem fazer o que quiserem."

[Sue vertue também confirmou a legitimidade da entrevista pelo Twitter]

Atualização

Em 2014, Mark Gatiss já havia falado sobre tudo isso em Mumbai. No trecho abaixo, ele esclarece melhor o sentido de piada, Johnlock e representatividade. Você pode assistir em vídeo, clicando aqui.

"Meu sentimento quanto a isso é forte. O problema é que, quando você faz um programa de qualquer tipo que gera muito sucesso, as pessoas acham que você deve levantar bandeiras por alguma coisa específica. Todo o conceito de John e Sherlock serem mal interpretados como um casal no nosso programa é inspirado por "A vida íntima de Sherlock Holmes", [filme] de Billy Wilder, que nós amamos...e nesse filme, você sabe, Sherlock sai de uma situação estranhíssima alegando que ele e Doutor Watson são um casal. Então a gente usou meio que a mesma brincadeira, mas é uma brincadeira. É óbvio que não é pra diminuir a ideia de que eles poderiam ser um casal, mas na nossa versão eles não são [...] Se estivesse na nossa agenda fazer de Sherlock e John um casal abertamente gay, então a gente teria feito isso, mas não é o que estamos fazendo...não é o que estamos fazendo. E eu fico feliz que as pessoas pensem que eles são assim, mas isso nunca vai acontecer. Não estou brincando, não vai. Não é o objetivo da série. Não é sobre torná-los um casal abertamente gay. Como eu disse, o perigo é as pessoas dizerem "mas eles deveriam ser, eles deviam ser porque precisamos de mais casais abertamente gays na televisão!". Sim, a gente precisa, mas esse programa é nosso e nós só estamos tomando uma decisão sobre nossos personagens. Eu ficaria muito feliz de escrever um outro programa em que haja um casal abertamente gay e que fosse sobre isso, mas não é esse."


Leia nossa cobertura completa da ComicCon:

Painel 01: Moffat define a T4 como "terminal", desmente relacionamento entre John e Sherlock e Amanda dá pistas sobre o futuro de Mary: http://goo.gl/XZCwDe

Painel 02: Os 3 nomes que definem os 3 episódios da T4 (e o que eles devem significar), o teaser legendado + "eu nunca disse que seria a última temporada": http://goo.gl/svTZal

Painel 03: Representatividade foi um dos assuntos abordados: "É muito importante, mas não trataremos desse assunto nessa temporada" http://goo.gl/KoF3Gr

Vídeo: Esquete hilária mostra como foram escolhidos os atores que participaram do evento: https://goo.gl/GTTgVo

Fotos: https://goo.gl/SeV1E6

2 comentários:

  1. Mais esclarecedor impossível.
    Cada um faz sua interpretação, mas não dá pra desprezar a verdade da série e do personagem.

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  2. meu Deus, eu só queria ver essa serie MARAVILHOSA, mas enquanto isso o povo fica enchendo O SACO dos roteiristas por conta de SHIP! KKKKKKKKKKKKK! cada um que ship o que quiser mas para de encher o saco (e de se iludir tbm né ?!) afinal, esclarecimento melhor que esse acho que nao vai ter!

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