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O Problema Final - Um belo final e uma porta aberta para novas aventuras (Resenha com spoilers)



Do Sherlockology

Então ele estava morto esse tempo todo.

Mas isso não significou que o tivéssemos perdido, já que Jim Moriarty nos levou através de um jogo que ele essencialmente planejou e, ao mesmo tempo, foi um espectador falecido. E essa é só uma revelação em uma rede de choques e reviravoltas que formaram esse consistente episódio de Sherlock.

O último estágio no plano de Moriarty, O Problema Final é um exercício soberbo na arte dos filmes de ação (sim, é TV, mas poderia muito bem ser um filme), fortemente embasado em extensas e quase insuportáveis sequências de tensão. Não há um caso real, mas há mistério, recheado com horríveis e demoníacos quebra-cabeças.

A questão principal era a se Jim Moriarty estava morto. Uma vez que sabemos que sim, e que não são irmãos gêmeos (apesar de uma brincadeira sobre um irmão dele), há um risco de turbulência perpassando o episódio, mas a descoberta de que Eurus Holmes é a vingança final que ele solta sobre Sherlock com seu envolvimento constante e explícito é outra marca de seu ridículo planejamento prévio. Ou, a julgar por aquele encontro supremamente ambíguo e fora dos registros entre ambos, será que não foi Moriarty o agente usado como parte do plano da Eurus? Essa é uma questão que jamais saberemos, possivelmente com todo o resto a respeito de Jim Moriarty.


A revelação sobre a natureza de Sherrinford também é intrigante. Steven Moffat e Mark Gatiss mais uma vez estão usando referências que extrapolam Conan Doyle, com a prisão na ilha obviamente refletindo a loucura de um vilão de James Bond, ainda que também haja outras referências Holmesianas, especialmente os tons de aventura de ação dos filmes com Basil Rathbone, assim como a trama fortemente embasada em espionagem do filme que eles tanto amam, A Vida Íntima de Sherlock Holmes. Fica claro também que o designer de produção Arwel Jones teve um imenso trabalho de campo nesse episódio, construindo efetivamente uma base secreta em um estúdio de som.

Como mencionamos na resenha sem spoiler, o tom desse episódio lembra muito o de T2E2: Os Cães de Baskerville, com Sherrinford sendo um lugar mais imponente que a base militar título do outro episódio, com uma base de pedra contrastando com o ambiente clean do laboratório de pesquisa.


 O que mais podemos dizer sobre o elenco que ainda não tenha sido dito? Benedict Cumberbatch traz Sherlock de volta ao seu melhor depois do episódio anterior, descobrindo que os defeitos que o deixam altamente emotivo enquanto é capaz de deduzir em uma velocidade até então inédita na série. Martin Freeman é o conflituoso e nobre John Watson que nós amamos, com o momento em que ele se prepara para executar o cabeça de Sherrinford (o brilhante Art Malik) lhe dando humanidade e força que contrastam com a fraqueza de Mycroft. É um prazer assistir Mark Gatiss aqui, tendo mais a fazer do que nunca na tela - Eurus não é a única Holmes que gosta de disfarces - enquanto preenche muitos desejos de fan service durante todo o tempo. Os segredos finalmente revelados de seu guarda-chuva que na verdade é uma arma já sinaliza que esse não será um episódio comum, e sua presença na ação é massivamente bem-vinda. Também é bem-vinda aquela cena com a Molly. Louise Brealey quase não fez nada nessa temporada, mas aquela sequência estonteante - facilmente a melhor coisa de todo o episódio - parte tão fundo o coração dessa personagem tão querida que arrisca quebrar o nosso.

Há também falhas nesse episódio, apesar de toda sua força. Aquele gancho chocante que vimos em T4E2: O Detetive Mentiroso é pulado e resolvido com uma confiança tão displicente que quase não fez sentido incluí-lo. Por que destruir o 221B (em uma sequência incrível), apenas para reconstrui-lo do mesmo jeito que era no final? (À primeira vista, achamos que era a melhor forma para que o designer de produção pudesse se livrar do icônico papel de parede, mas não, ele está de volta no final).

As habilidades de Eurus também são um pouco nebulosas - se parecendo demais com aquela criança fantasma Sadako de Ringu (1998) [ou a Samara, de O Chamado, o popular remake] a maior parte do tempo, usam seus poderes de sugestionamento e controle quase sobrenaturais ao nível da loucura com pouquíssima explicação. Uma interpretação é a de que ela seria efetivamente uma Derren Brown super-malévola - uma ideia certamente bacana, mas isso desequilibra a balança da plausibilidade para a gente. Junte isso à sua performance vocal como a garotinha no avião que na verdade nem existia, e aí entramos em uma seara em que são quase abusivos com o público - uma aptidão adequada para uma personagem tão má.





Mas apesar de tudo isso, a maior força desse episódio é a de quase nos levar ao ponto da compreensão. O Problema Final faz uma forte tentativa de resolver o mistério essencial que habita o coração de Sherlock Holmes.

O que fez Sherlock Holmes ser Sherlock Holmes?

Tanto Mycroft quanto Eurus compartilham de uma visão similar. Emoções são perigosas. Mycroft acredita nisso pelo o que aconteceu com seu irmão mais novo. Eurus acredita nisso porque ela poderia acabar com seu irmão tão facilmente, já que foi tão negligenciada por seus irmãos. Como retratado aqui, Sherlock foi um garotinho normal, o filho do meio entre dois opostos polares que se combinaram em temperaturas glaciais. Ele era diferente e ele era emocional, e ele vem fugindo da perda de seu melhor amigo durante toda a sua vida, com o trauma do assassinato ligando seu cérebro como a máquina analítica que nós conhecemos tão bem. Essa revelação, cujas terceira e quarta temporadas já davam pistas e são entregues aqui como um material que nos leva de volta a O Grande Jogo é tanto uma ação efetiva a respeito de um erro de julgamento como também um completo reforço sobre a força da relação entre Sherlock Holmes e John Watson. O fato de que Redbeard não era um cachorro, mas um garotinho que ocupava o mesmo lugar que John nas aventuras de infância do pequeno Sherlock é uma ideia que afeta profundamente, e uma demonstração do porquê o par de amigos maduros precisa um do outro. Um amigo humaniza Sherlock da forma com que seus irmãos não conseguiram nem começar a compreender. Os dois estão fazendo as vezes de detetives, não de piratas, mas isso toca fundo no coração desses personagens de uma forma nova. 

Como Mark Gatiss pontuou após a apresentação do episódio, toda a série que ele e Steven Moffat criaram pode ser lida como uma história de origem para os icônicos e arquetípicos Sherlock e Holmes e Dr. Watson que nós mais estamos familiarizados. Ainda que nós já tenhamos viajado pelas versões das suas aventuras mais famosas, nós terminamos de volta ao "começo", mas não de forma barata. Removidos os detalhes que fizeram tanto o cânone quanto as outras adaptações - casamento, bebês, irmãos - em seu encerramento a temporada criou os personagens da forma que nós conhecemos melhor, sendo ao mesmo tempo um belo final e uma porta aberta para novas aventuras.

Um Detetive e seu melhor amigo Doutor, solucionando crimes.

3 comentários:

  1. boa análise. Achei esse episódio fantástico, as tais falhas tão comentadas não me pareceram absurdas, pra tanto estardalhaço. O melhor foi justamente a forma como os personagens foram apresentados nessa temporada . As fraquezas de um Mycroft, amedrontado pelo fantasma da irmã viva. Sherlock é seu trauma e medo de perda, por isso a resistência em manter ligações emocionais . A declaração para a Molly, que mesmo sendo parte do jogo, com a reação dele qdo a irmã diz que ele perdeu pq se mostrou emocional, deixou claro o que foi insinuado diversas vezes nas outras temporadas. Como esquecer a cena que ele entra pela janela e lasca um beijo na "coitada" rsrs. Senti falta do Greg, tomara que em uma próxima temporada, com todas as emoções claras, Lestrade possa entrar pra turma de vez. A trama foi bem diferente das outras temporadas, acredito que por isso alguns não tenham gostado, esperavam aventuras e viram a desconstrução dos personagens.

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  2. Sinceramente, não curti esse episódio, definitivamente. Na verdade, creio que a série j[á vinha "patinando" e se perdendo um pouco do seu propósito, viajando demais nos chamados 'palácios mentais' de Sherlock (e por fim, no de Eurus) , onde tudo parece ser muito nebuloso, volátil, como se fosse um sonho ou um pesadelo eterno, onde coisas impossíveis acontecem o tempo todo... etc... deixando vários buracos (ou seriam ganchos?) na história. Talvez tenha sido pela indecisão sobre a continuidade ou não da série e por isso tenham deixado várias pontas 'soltas' para poderem costurar do jeito que bem entenderem numa futura temporada, sei lá. Só sei que não gostei. Achava que Sherlock iria retomar o frescor da 1a e 2a temporada com a 4a temporada. A qualidade está lá, as interpretações fabulosas idem. Mas senti falta dos mistérios mais "verossímeis" e a clássica veia investigativa de Sherlock (mais assassinatos em série, desparecidos, suicídios, mais Scotland Yard, Molly, Sherlock no laboratório, etc) O final foi um misto de 007 num filme de suspense psicológico, quase de terror. E Moryarty pra mim sempre foi um vilão fraco, nunca gostei muito da atuação desse ator. Já Mycroft... seria um vilão perfeito!!! Minha teoria era que Mycroft fosse o vilão-mor por trás de tudo, ele sim como manipulador de Morarty (não existiria Eurus, seria tudo fruto de sua incursão psicológica em Sherlock) Seria muito mais simples (e chocante) sem precisar inventar muita moda. Penso nisso desde "The Great Game". Quem poderia ter envenenado aquele garoto na piscina e guardado o tênis do mesmo durante tanto tempo (talvez como um prêmio para o primeiro assassinato?) quando Sherlock ainda era apenas garoto durante tanto tempo? Moryart? Eurus (a irmã caçula)? ou Mycroft (7 anos mais velho que Sherlock) Seria muito mais interessante e chocante que fosse Mycroft , mas prefiram inventar Eurus, um personagem com inteligência inigualável e com 'superpoderes' quase sobrenaturais para justificar tudo! Sei lá... Desde então, fiquei tentando achar pistas em Mycroft que reforçasse minha teria. Ele poderia ser um viciado em crimes, como Sherlock. Só que pelo lado mal. O fato dele se preocupar e até as vezes salvar seu irmão talvez fosse para manter o 'jogo' em andamento - uma vez que adoram se desafiar um a outro. Acho que seria bem mais interessante do que essa viagem quase psicodélica e psicológica a cada episódio... Outro fato que em intriga no caso Eurus - ela vinha apresentando comportamentos estranhos e cometeu um crime. Foi levada a uma instituição (psiquiátrica talvez) sob a supervisão de Mycroft (que garantiria sua segurança). Mas ele se era só um garoto ou adolescente ainda quando tudo aconteceu, como isso seria possível? Qual é. Tem muito furo aí.. Pra mim, Eurus nunca existiu e o 4x3 é tudo uma ilusão. Tudo está na cabeça de Sherlock, inserida lá por alguém que tem um poder maior sobre ele que seria... Mycroft. Não tem como ser outra coisa, não é possível. O 4x3 não existiu!! Que final é aquilo? Uma hora está na prisão, noutra na casa da familia.. Aí aparece a Scotland Yard , prende Eurus e a leva de volta para prisão? Ué.. Mas ela não tinha poder de manipular todo mundo? Enfim.. os retoristas podiam voltar na 5a temporada sabendo que as vezes menos é mais...

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    1. A Eurus poderia ter se conformado e nao manipulou os guardas porque nao precisava ela ja tinha o irmao do lado dela indo visitar ela como vimos no final,Ela só queria a atençao do irmao e nada mais

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